escrevo este texto numa noite de sexta-feira, após o último atendimento do dia, para falar sobre algo que transborda a minha existência: a difícil tarefa de me reconectar comigo mesma em meio às demandas cotidianas — casa, trabalho, vida social, maternidade…
uma lista enorme de pendências que nunca tem fim. mas, de todas elas, o que mais me demanda — integralmente — é a maternidade. vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano. sem férias, licença médica ou descanso remunerado.
as demandas são para hoje. ou melhor: para agora. não dá para deixar de dar um remédio e postergar para a semana que vem. ainda que o jantar seja improvisado, é preciso garantir que a criança esteja alimentada. se o uniforme da escola não foi lavado, será necessário escrever um bilhete e lidar com os protocolos da instituição para justificar por que a criança não está devidamente uniformizada.
e essa situação se complexifica ainda mais quando se é mãe solo, sem uma rede de apoio sólida — o que, infelizmente, é o meu caso. em muitos momentos, o estresse toma conta. tudo o que eu preciso é de um banho demorado, lavar o cabelo sem pressa, ler um livro sem ser interrompida, ver uma série ou filme sem me preocupar com a classificação indicativa. coisas aparentemente banais, mas que mudam radicalmente na vida de quem assume essa árdua tarefa que é cuidar de outro ser humano.
a experiência do meu puerpério foi longa e difícil. um processo intenso de buscar compreender onde eu me encaixava enquanto mulher, em meio à vivência disruptiva da maternidade. houve momentos em que me anulei. mas, pouco a pouco, num movimento de resistência e persistência, tenho reivindicado pequenos momentos e espaços para mim.
e não se enganem: trata-se de um processo contínuo. a maternidade facilmente nos engole. afinal, a imagem que ainda se tem de uma suposta “boa mãe” é aquela que abdica de tudo de si em prol do filho. apagamento.
você, que é mãe e me lê agora: tem conseguido construir espaços de autocuidado e um tempo para si? Caso contrário, o que tem dificultado esse movimento?
e você, que não exerce a parentalidade: quantas mães conhece? Como tem se implicado e participado como rede de apoio? Como é o seu convívio com as crianças?
amanhã, 08/05, conduzirei uma roda de conversa online com o tema: “Mulher e mãe: o reencontro pelo autocuidado”, em parceria com a Revista Mães que Escrevem. Se este assunto te toca de alguma forma, ainda dá tempo de fazer sua inscrição.
aguardo você.